terça-feira, 12 de abril de 2011

Mundo celebra 50 anos da primeira viagem do homem ao espaço

 Há exatos 50 anos, quando o cosmonauta Yuri Gagarin partiu da União Soviética na nave Vostok, ele seguia em direção ao espaço e à eternidade da História, na qual ficou marcado como o primeiro homem a orbitar a Terra. Nesta terça-feira, o mundo inteiro celebra a data. Filmes, sites, festas, tudo para lembrar o primeiro passo da humanidade para desvendar os mistérios do universo.
A Nasa e a Agência Espacial Europeia lembram em seus sites a importância da conquista do soviético. A ESA disponibiliza online uma coleção de artigos, vídeos e entrevistas, enquanto a Nasa conta como o mundo ficou sabendo da viagem de Gagarin e como ele se tornou uma celebridade internacional quando retornou à Terra. A importância de sua marca, inclusive, estrapolou os limites impostos pela Guerra Fria e a corrida espacial, com os Estados Unidos reconhecendo quão significativa foi a viagem. 
Hoje também aconteceu a estreia de "First Orbit", filme que tenta recriar a experiência de Gagarin e está disponível no Youtube. Com aproximadamente 1 hora e 40 minutos de duração, o filme remonta o voo - que começou com a frase do cosmonauta "Vamos lá" -, combinando o áudio original no qual ele relatou o que via - no momento em que via - com imagens feitas recentemente na Estação Espacial Internacional (ISS). Elas foram gravadas em alta definição e recriam o percurso de Gagarin. O projeto é do astronauta Paolo Nespoli e do diretor Christopher Riley.
Para marcar a estreia do filme  acontece no mundo inteiro nesta terça a Yuri's Night. São centenas de encontros ao redor do globo nos quais "First Orbit" será exibido para os mais fissurados na exploração do espaço pelo homem. Também vão acontecer exposições, competições, debates e festas em bares. No Brasil, estão marcados eventos em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Ceará, Rio Grande do Sul e Mato Grosso.
Durante o voo, o cosmonauta disse duas frases que entrariam para a história. Uma de surpresa:

- A Terra é azul.

A outra, que só um bom comunista ousaria dizer:

- Olhei para todos os lados, mas não vi Deus.

Gagarin foi promovido de tenente a major enquanto ainda estava em órbita. Foi com essa patente que a agência de notícias soviética Tass anunciou o espetacular feito ao mundo, que entrava na Era Espacial a partir daquele momento.   Corrida espacial
A ida à Lua sempre foi um sonho do homem. Com a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) capturaram a maioria dos engenheiros que trabalharam no desenvolvimento do foguete V-2.

A exploração espacial começou mesmo com o lançamento do satélite artificial Sputnik pela URSS em 4 de outubro de 1957, no Cosmódromo de Baikonur (base de lançamento de foguetes da URSS), em Tyuratam, no Cazaquistão.

O Sputnik provocou uma corrida pela conquista do espaço entre a URSS e os EUA, que acabaria com a chegada do homem à Lua. No entanto, o primeiro ser vivo no espaço não foi um homem, mas a cadela russa Laika, que subiu ao espaço em 3 de novembro de 1957 a bordo do Sputnik 2.
O lançamento do Sputnik e a ida do primeiro homem ao espaço se devem bastante ao talento de Serguei Korolev, engenheiro-chefe do programa espacial soviético. Foi ele quem convenceu Nikita Khruchev, na época o líder da URSS, a investir no programa. E foi dele também a ideia de levar, realmente, homens à Lua.
Símbolo do comunismo

Para o povo soviético, Gagarin se tornaria um símbolo do que o comunismo era capaz, pois se ele podia ser o homem mais famoso do mundo, então o regime político funcionava. O feito de Gagarin provocou um grande medo na sociedade americana: se os soviéticos podiam levar um homem ao espaço, podiam ter armas poderosas.

Alguns países em desenvolvimento diziam que o sucesso soviético no espaço sugeria que o sistema comunista era superior. Um dia após o voo, o jornal americano Washington Post pediu uma mobilização de guerra para vencer os soviéticos.

Famoso ainda hoje na Rússia, Gagarin foi escolhido pelo poder para encarnar o modelo do homem soviético, especialmente por suas modestas origens camponesas. Morto em 1968, ele é um dos raros heróis nacionais cuja imagem não sofreu com a queda da União Soviética no fim de 1991, e continua sendo ainda hoje para os russos a personalidade mais atraente do século 20.

Suas origens populares - um pai carpinteiro e uma mãe camponesa - jogaram a favor de sua candidatura para se tornar o primeiro homem no espaço, frente a seu rival Gherman Titov, que vinha de uma família de professores, mas cuja desvantagem era o nome germânico, segundo seus biógrafos.

Nascido em março de 1934 em um povoado perto de Smolensk (oeste), depois de uma infância difícil marcada pela guerra e pela ocupação nazista, Gagarin trabalhou primeiro como metalúrgico.

"Sua trajetória foi parecida com a de qualquer de seus milhões de concidadãos", conta Lev Danilkin, autor de uma monografia sobre o cosmonauta, publicada na semana passada.

Apaixonado por aviação, o jovem Gagarin se inscreveu em uma escola militar e assumiu pela primeira vez o comando de um avião em 1955. Quando, em um dia de outono de 1959, uma comissão selecionava voluntários para pilotar um "tipo moderno de aeronave", sua baixa estatura – de apenas 1,60 m -, jogou a seu favor.

Origem humilde

Vinte candidatos começaram um treinamento de um ano em um centro secreto de Moscou. Com o passar do tempo, não restaram mais de 12, e logo seis, entre eles, Gagarin. Esse homem loiro, de olhos azuis e sorriso quase infantil ganhou a simpatia de seus colegas, e em especial a de Serguei Korolev, pai da astronáutica soviética. "Gagarin não era um líder, mas era amigo de todos, e Korolev o tratou como um filho", lembra o cosmonauta Boris Volynov.

Em 1961, Gagarin é designado para realizar o primeiro voo do homem ao espaço, programado para 12 de abril. Naquela época, tinha 27 anos e era casado com Valentina, uma enfermeira que acabava de dar à luz uma segunda filha. A missão era perigosa: de 48 cães enviados ao espaço pela União Soviética, 20 tinham morrido. Mas "todos sonhavam em ir no lugar dele", disse Volynov.

Após o feito, Gagarin tornou-se instantaneamente uma celebridade soviética e mundial e passou a viajar pelo mundo promovendo a tecnologia espacial do seu país, sendo recebido como herói por reis, rainhas, presidentes e multidões por onde passava. No Brasil, foi recebido e condecorado, pelo então presidente Jânio Quadros, com a Ordem do Cruzeiro do Sul.

Recebido de forma triunfal em todo o mundo, Gagarin completou sua missão diplomática perfeitamente, demonstrando, segundo as testemunhas, uma simplicidade absoluta. Durante um jantar, recebeu um sorriso da rainha da Inglaterra ao admitir que não sabia com qual garfo poderia se servir.

Da fama à bebida

A fama e a popularidade começaram a afetar a personalidade dos cosmonauta. Empolgado com a popularidade, Gagarin passou a beber com frequência, o que afetou seu casamento e causou um acidente na Crimeia, em companhia de uma jovem enfermeira, em outubro de 1961.

A partir de 1962, o cosmonauta ocupou o cargo de deputado no Soviete Supremo da União Soviética até voltar à Cidade das Estrelas, o centro espacial soviético, para trabalhar no projeto de novas espaçonaves.

Herói nacional com todos os privilégios, Gagarin passava horas ao telefone para conseguir um remédio, um lugar no hospital ou um tíquete para o teatro Bolshoi para seus diversos amigos, lembra Volynov.
Gagarin sonhava em ir à Lua, mas o destino tinha decidido outra coisa. Muito querido pelas autoridades soviéticas, permaneceu um longo tempo proibido de pilotar antes de obter autorização. Depois de vários anos afastado, dedicado apenas ao programa espacial, Gagarin voltou ao curso de treino de pilotos, para uma requalificação como piloto nos novos caças MiG da Força Aérea.

Em 27 de março de 1968, durante um voo de treino de rotina sobre a localidade de Kirzhach, ele e o instrutor de voo Vladimir Seryogin morreram na queda do MiG-15 que pilotavam, num acidente nunca explicado. Um inquérito de 1986 sugere que a turbulência de um avião interceptador Sukhoi Su-11 pode ter feito o avião de Gagarin sair do controle.

O sorriso tímido de Gagarin, que um dia já decorou as paredes da estação espacial Mir, foi dado numa época em que o espaço era usado para servir aos militares e para aumentar o prestígio do país.

No entanto, para o cosmonauta Anantoly Solovyov, "toda a humanidade ganhou com a conquista de Gagarin, que aproximou todas as pessoas do planeta".

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